São 4:57 da manhã, meu marido dorme em minha velha cama de solteira. Estamos na casa da minha mãe, que ronca como um trator no quarto ao lado. Penso em como sou maluca por estar escrevendo no escuro e a esta hora. Está acontecendo o contrário do que eu queria, ao invés de estar de olhos esbugalhados, queria dormir. Queria dormir muito, por dias inteiros, até que chegue a segunda-feira.
-Tente ficar tranquila! - as pessoas dizem.
Pra mim é como se dissessem:
-Perder um filho é bobagem!
Tem Diazepan aí? Me dá uns 4 por favor. Preciso dormir uns dias.
-Vocês são tão jovens! Depois tentam novamente! - só podem estar brincando comigo.
A tradução pra mim é:
-Ô... o porta retrato quebrou... mas tem mais iguaiszinhos lá na loja!
Começa a chover. É só um chuvisco, mas já deu frio. O trator do quarto ao lado para um pouco os motores.Que alívio! Tava ficando nervosa! Meu marido ainda dorme e eu me pergunto como ele deve estar se sentindo. Como ele consegue? Queria conseguir dormir também! Alguém me dá um calmente?!
Lembro da minha conturbada adolescência e de como sofria de insônia. Como eu sofria por tudo...cheguei a pensar que um dia enlouqueceria.
Meu marido acorda, me vê sentada na cama ao lado:
-Tá sentindo dor?
-Naõ.
A vontade era dizer:
-Sim, meu coração está sendo triturado pela espera, pela angústia e pelo medo.
Ele cai no sono logo.
Puxa! Nem estranhou o fato de eu estar escrevendo no quarto escuro! Ou ele estava com muito sono e nem percebeu, ou me acha tão maluca que achou normal.
Penso o quanto sou apaixonada pelo homem da outra cama...penso no caminho que nos trouxe até aqui...não me arrependo de nada.
O galo canta. Que engraçado! Já perceberam que onde quer que estejamos a esta hora, tem sempre um galo cantando? E este que cantou agora parece o mesmo galo que cantava quando era criança. O canto dele é tão igual ao que me lembro.
Esse papo de galo me deu sono. Se o trator deixar vou tentar dormir agora.
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